quarta-feira, 31 de março de 2010

Não temas, filho! – Salmos 46.1-2




“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.



Portanto, não temeremos



ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares.” Sl 46.1-2










Contexto: Este Salmo é de autoria dos descendentes de Corá (1) ou coraítas que no tempo do rei Davi foram encarregados de vários serviços no templo (2). A origem histórica é incerta, mas, semelhanças com alguma profecias de Isaías podem sugerir sua localização entre os capítulos 18 e 19 de 2Reis. Assim sendo, o povo de Judá estava sendo oprimido pelo exército de Senaqueribe da Assíria. Após Senaqueribe subjugar Samaria (3) a próxima cidade a ser sitiada seria Jerusalém em Judá. Ezequias, rei de Judá, tenta comprar a saída do exército assírio; chegando a entregar prata, ouro, inclusive do templo e até suas portas e umbrais banhados a ouro (4). Não adiantou, pois Rabsaqué, em nome do rei assírio, afronta Judá e o Senhor (5). “E crês tu que (o Senhor) te livrarias? – perguntou Rabsaqué no verso 19. E você, crê hoje que Ele livra você das suas aflições?










Por que não temer? 1 Porque em períodos de grande tribulação Deus está conosco; 2 Porque desde que O conhecemos Sua alegria está conosco; 3 Porque cremos em um futuro melhor pois Deus está e estará conosco.










Aplicação: A pergunta do rei assírio, gabando-se da destruição de várias terras não poderia ser mais pretensiosa, pois questionava o Deus verdadeiro, Senhor dos habitantes de Judá; e que havia permitido estas vitórias assírias. Não importa qual tribulação enfrentaremos. Quantos líderes pagãos já se ergueram prometendo destruir os cristãos e foram silenciados? Montes abalados, terra tremendo, tsunamis são utilizados como exemplos de perturbações terríveis – e de fato o são – mas, não devemos temer diante de nenhuma dificuldade quando estamos com o Senhor. Ele é poderoso, soberano e nada pode atrapalhar os Seus propósitos eternos. Tanto nas enchentes e desmoronamentos que ocorreram no sul do país em 2008 quanto nos recentes terremotos ocorridos no Haiti e Chile, em 2010, pudemos observar a graça de Deus; quantos milagres ocorreram em meio essas tragédias. Não adianta pendermos ao emocional e querermos questionar o Criador o porquê de “tantos inocentes perecerem”. Na realidade a questão assim está posta na perspectiva errada, pois não há inocentes. Em Adão todos pecaram; não há um justo se quer; e o Senhor tem misericórdia de que Lhe apraz (6). Nossa verdadeira indagação e motivo para tanto vigiar em obediência como rejubilar em adoração deve ser: como um Deus santo e perfeito permitiu que eu visse mais um amanhecer, sabendo o que eu fiz, desejei e pensei no dia anterior? Eu tive perdas nas enchentes de 2008, outros perderam muito mais, mas o que não podemos perder é a esperança nAquele que pode fazer perecer “tanto a alma como o corpo” (7). Nosso refúgio, nossa cidadela se encontra no Senhor. O nosso auxílio em toda e qualquer diversidade vem dEle.










Ezequiel e João vislumbraram o mesmo rio do Senhor descrito no quarto verso deste Salmo (8). Esse rio é formado pela Água da vida (9). O quinto verso nos revela que o Senhor nos socorre “desde a antemanhã”, desde o raiar do dia, desde o romper da manhã. À noite em nossa vida terminou quando a Luz do mundo (10) resplandeceu em nosso coração. “O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (11); este é o Emanuel, o Deus sempre conosco profetizado em Isaías 7. Reinos e nações agitadas, mundo sem paz, não podem abalar a confiança daquele que recebeu a paz que o mundo desconhece (12). Toda prova e tribulação é oportunidade de louvar ao Senhor. John Piper encerra a sua Teologia da Alegria nestes termos: “o principal propósito do ser humano é glorificar a Deus ao alegrar-se nEle para sempre” (13). Como isso? “Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle” (14). “Tudo posso nAquele que me fortalece” diz Paulo, depois de listar uma avalanche de dificuldades, começando a sentença dizendo: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor” (15). “Nossas deficiências nada mais são que espaços para a Onipotência de Deus” (16). Paulo acrescenta que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza (17). “Assim como a terra se dissolve ao ouvir Sua voz”, os assírios se dissolveram por ordem do Senhor (18). Não devemos temer e devemos nos alegrar nEle, o Deus da salvação.










Todo cristão é um ser esperançoso de um futuro melhor. Mas o melhor de Deus não está por vir, já veio; o Emanuel prometido já nos tornou aceitáveis ao Senhor nos reconciliando com o Pai através da cruz. Olhamos para esta obra do passado que nos assegura um futuro esplêndido, nos consolamos e nos alegramos. Este Salmo era o preferido de Lutero. Segundo John Stott e F. B. Meyer, Lutero e Melanchthon cantavam juntos este Salmo em períodos de desânimo e insegurança durante a Dieta de Augsburgo (19). O hino Castelo Forte é uma paráfrase deste Salmo. O Senhor é o nosso castelo forte. Ele vence o inimigo e põe fim as guerras conforme o nono verso. Ele está conosco todos os dias conforme diz o décimo verso e frisamos nos devocionais (20). “Aquietai-vos” (parem de lutar – NVI), diz o salmista no verso 10. Aguardemos e exaltemos o Senhor nos períodos difíceis, pois encontramos abrigo e salvação nEle. “As assolações nada mais são que a poda dos galhos secos em preparação a primavera” (21). Stott nos ensina: “Podemos dizer: ‘Não temeremos?’ Com certeza podemos; mas somente se crermos nas outras afirmações deste Salmo: ‘Eu sou Deus’ e o ‘Senhor dos Exércitos está conosco’. Tal como John Wesley disse em seu último suspiro: ‘O melhor de tudo é que Deus está conosco’” (22). Encerro com o hino de Johann Franck: Jesus, Tesouro Inestimável, publicado em 1653 (23):






Por isso, em todo pensamento de tristeza






O Senhor da alegria, Jesus, penetra.






Aqueles que amam o Pai,






Embora apanhados pelas tormentas, têm paz no íntimo;






Sim, não importa o que tenhamos de suportar neste mundo,






Em Ti, há o mais puro prazer, Jesus, Tesouro inestimável!










Referências:






(1) Números 16;






(2) 1Crônicas 6.31 e 37;






(3) 2Reis 17;






(4) Idem 18.13-16;






(5) Ibdem 18.19 e 27-35;






(6) Romanos 5.12-14, 3.10, Oséias 10.10, Êxodo 33.19 e Romanos 9.15;






(7) Mateus 10.28;






(8) Ezequiel 47.1-12 e Apocalipse 22.1-5;






(9) João 4.14;






(10) Idem 8.12;






(11) Salmos 46.7;






(12) João 14.27;






(13) Em Busca de Deus (Teologia da Alegria) – John Piper – Shedd & Vida Nova, p.258;






(14) Idem, p.240;






(15) Filipenses 4.10-15;






(16) Comentário Bíblico devocional do Velho Testamento – F B Meyer – Betânia, p. 286;






(17) 2Coríntios 12.9;






(18) Salmos 46.6 e 2Reis 19.35-37;






(19) Comentário – Meyer – p. 286 e Salmos Favoritos – John Stott – Abba Press, p. 58;






(20) Comentário – Meyer – p. 286;






(21) Salmos –Stott – p. 61.






(23) Deus é o Evangelho – John Piper – Fiel, p.204-5.

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